Perdoem-me
os leitores de tantas cidades que não a minha e que me seguem pelas redes
sociais, sites, jornais e revistas distantes desse meu mundinho paulista.
Escrevo hoje uma crônica saudosista, bairrista. Assis, terra adotiva, já mesclou
sua história, conquistas e crescimento com minha humilde biografia. Na mais
bela colina da minha cidade existia uma das maiores escolas católicas desse
nosso interior brasileiro. Orgulho da cidade, o Colégio Diocesano Santo
Antonio, dos padres do PIME, durante décadas foi referência da positiva
formação cristã que o catolicismo exercia em nossa sociedade. Tive o privilégio
de ser um dos seus alunos. Lembro-me do afã desses dias estudantis, do rigor em
sua disciplina, das exigências de uma pedagogia estritamente voltada para o
saber, a moral, a fé dos milhares de jovens que marcaram definitivamente suas
vidas entre as amplas e bem arejadas salas daquela instituição. Recordo alguns
formadores, como Pe. Câncio, Pe. Contini, Pe. Danilo e outros. Faço também
justa homenagem ao prof. Geraldo do Carmo, com o qual ainda tropeço pelas ruas
da cidade.
Nosso querido Diocesano chegou definitivamente
ao fim. As últimas caçambas dos entulhos que restaram de sua triste demolição
ainda carregam seus vestígios impregnados de glória e sabedoria. Seus últimos
anos foram de total abandono, expondo aos transeuntes um mausoléu com suas
amplas vidraças estilhaçadas, tal qual o coração dos seus ex alunos. Doía
constatar aquele abandono.
Paralelamente,
encho-me de orgulho por ver concluída a restauração da nossa bela catedral, no
coração da cidade. Acompanhei sua construção passo a passo. Conheci a velha e acanhada
catedral, que cedeu lugar ao belo monumento que hoje temos. Sua recente reforma
foi minuciosa, não se esquecendo sequer da substituição dos velhos vitrais.
Ficou perfeita em todos os detalhes. Até sua cúpula dourada e seu telhado
lavado com jatos de ácido foram revitalizados. Nenhum detalhe ficou
despercebido. Em contrapartida ao colégio que se foi, ganhamos uma catedral
novinha em folha. Mas ,
pasmem, algo de muito tétrico está acontecendo... Quem passa diariamente por
esse monumento de fé, como eu, já deve ter observado um fato. Um a um, dia a
dia, seus novos vitrais estão sendo estilhaçados a pedradas. Várias pichações
já foram feitas e apagadas. Uma imagem do Sagrado Coração teve uma das mãos
decepadas. Protestos surdos e escrupulosos já se ouviram de pessoas contrárias
à instalação das imagens de São Francisco e do Sagrado Coração, que embelezam
hoje nossa praça central. Enfim, o respeito ao sagrado já não mais é um valor
que se considere essência da natureza humana. O que significam tais
ocorrências?
Primeiro
que ainda são pequenas as pedras que nos atiram, se olharmos o crescente
apedrejamento contra a Igreja nos dias de hoje. Se, por um lado, o direito de
se exigir respeito à fé alheia é constitucional, por outro é também padrão de
civilidade. Essa aversão crescente contra cristãos tem sido uma constatação de
que algo de muito mais sério está acontecendo. Tira-se a fé de um povo e o caos
domina. A formação cristã está fadada às nossas trincheiras paroquiais e
familiares. Dia a dia estigmatizada e ferida em seus direitos de manifestação pública.
Até procissões já foram barradas por aqui. Até o som dos sinos em nossa
catedral foi objeto de ações que evocam a lei do silêncio... Tudo bem que
também devemos respeito ao direito do outro, em especial daqueles que não
professam nossa fé. Mas há de se respeitar os nossos também.
Não
faço aqui uma cobrança pura e simples. Antes, constato um fato aterrador. O
respeito humano está sendo demolido. Seus entulhos abarrotam nossos presídios,
perambulam pela escuridão onde nossa juventude extravasa suas desilusões
atirando pedras, pichando patrimônios, depredando a fé.
Pergunto: qual a
vidraça mais estilhaçada: a deles ou a nossa?
WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário