segunda-feira, 17 de março de 2014

OBEDECERÁS À SUA VOZ


Assim falava Moisés ao povo de Israel: “Hoje, fizeste o Senhor, teu Deus, prometer que ele seria teu Deus, enquanto tu... observarias suas leis, seus mandamentos e lhe obedecerias fielmente. E o Senhor fez-te prometer, neste dia, que serias um povo que lhe pertença de maneira exclusiva, um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, como ele o prometeu” (Dt 26, 17-19). Com a declaração dos empenhos de ambas as partes, confirmava-se a aliança entre Israel e Javé: fidelidade e obediência da parte de Israel, cumprimento das promessas da parte de Deus. Em virtude da obediência, Israel será um povo privilegiado, consagrado, isto é, pertencente ao seu Deus, que dele cuidará, de modo especial e o salvará.
A Israel, sucedeu, há séculos, a Igreja, novo povo de Deus; e hoje, como ontem, a condição para ser “povo de Deus” é a obediência. O primeiro motivo da obediência apoia-se no fato de ser o homem criatura, e como tal, recebe de Deus “a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17,25), não podendo, por isso, de modo algum, ser independente de Deus. “Ai daquele que discute com quem o formou – diz o profeta. Acaso diz a argila ao oleiro: ‘Que fazes? ’” (Is 45,9). É a obediência a relação essencial da criatura com Deus, relação que assegura a ordem, a harmonia, a felicidade. O rompimento desta relação foi a causa da ruína do gênero humano: “Pela desobediência de um só (Adão), todos se tornaram pecadores” (Rm 5,19), e para restabelecer a ordem, foi necessária a obediência de Cristo. Desobediência é rompimento com Deus, abandono de sua amizade, recusa de seu domínio, orgulhosa pretensão de viver independentemente dele. Obediência é reconhecimento prático da primazia absoluta de Deus, consciência de que, fora de Deus, não pode o homem encontrar bem algum, felicidade alguma; é humilde submissão aos seus quereres, aceitação amorosa e dócil de seus preceitos, comunhão com ele. O Filho de Deus, que por amor do Pai e pela salvação da humanidade, obedeceu até à morte de cruz, assim fez para que a obediência do homem não seja só a de simples criatura que, por necessidade, submete-se ao Criador, mas obediência de Filho, inspirada pelo amor.
Ao aperfeiçoar a lei antiga, apresentou Jesus as relações do homem com Deus, não tanto como de criatura para Criador, como Filho para com o Pai. No antigo Testamento era a obediência à lei divina dominada pela idéia do senhorio de Deus: “Será ele para ti o teu Deus... e obedecerás à sua lei”.
No Novo Testamento permanece está ideia, inalterável! O primeiro mandamento continua a ser: “Eu sou o Senhor teu Deus” (Dt 5,6); todavia é complementada e torna-se mais carregada de amor pela paternidade de Deus. Por conseguinte, a obediência, a observância da lei assumem aspecto filial. Na doutrina de Jesus, está sempre presente a figura do Pai: os deveres da esmola, da oração, do jejum, devem ser realizados sob o olhar do Pai que vê no segredo (Mt 6, 1-18); as obras dos discípulos devem ser tais que glorifiquem o Pai (Mt 5, 16); mas sobressai, de modo particular, a figura do Pai, no enunci-ado da nova lei da caridade: “Amai vossos inimigos, e rezai pelos vossos perseguidores, para serdes filhos de vosso Pai do céu” (ibidem, 44-45).
Enquanto o ideal da lei antiga é a absoluta santidade de Deus: “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 11,44), o ideal da nova é a santidade de Deus, considerada mormente sob o aspecto da paternidade: “Sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5, 48). A idéia da paternidade recorda imediatamente a ideia da bondade, do amor, e, justamente por isso, dá Jesus tanta importância à lei do amor, quer como resposta ao amor infinito do Pai celeste, quer como imitação de sua bondade nas relações recíprocas.
O fato de ser Deus o Pai, e filhos os homens, não diminui, porém, o dever da obediência, antes aumenta-lhe o compromisso, porque provém, não de temor servil, mas de amor filial. “Inconcebível é a caridade – ensina Sto. Tomás – sem a obediência... E isto porque a amizade faz quererem os amigos as mesmas coisas” (ST, 2-2, 104,3). Fruto do amor, da amizade com Deus é a obediência e, ao mesmo tempo, seu testemunho concreto. Quanto mais se conforma em tudo, o homem com a vontade de Deus, renunciando à própria, tanto mais a Deus se une em comunhão perfeita.

Fonte Facebook  Ir Kelly Patricia.

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