quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O cristianismo pode salvar o Ocidente da ruína?

E você, católico, sabe o que nós temos que fazer?

"Tudo o que estava acontecendo quando o Império Romano desmoronou está acontecendo hoje também", contou-me o meu filho de 12 anos. "O nosso professor tem uma lista completa de exemplos", completou ele.

De fato, a moralidade cívica e pessoal está em quebra também na nossa época. Vemos sinais da decadência em quase todas as propostas de entretenimento de massas. Há no Ocidente um "amálgama monstruoso de Mercado e Estado", como disse Alasdair McIntyre, enquanto novos poderes ascendem no Oriente. Aqui, os nossos índices de aborto, eutanásia, violência nas ruas, guerra, suicídio e doenças sexualmente transmissíveis sugerem que os bárbaros já estão dentro das nossas fronteiras, e já faz um bom tempo.

E, assim como antes, nós, cristãos, estamos no meio deste cenário perturbador.

Assim como antes, boa parte de nós, cristãos, está de mãos dadas com as elites, adicionando a sua triste traição ao caldo comum da corrupção. Católicos de toda parte, nas universidades, nos hospitais e nos escritórios das empresas, são líderes na cultura da morte.

Mas, assim como antes, este não é o panorama completo da Igreja em nossos dias. Também há católicos, em todos esses lugares, que ainda são o antídoto para as piores tendências da nossa cultura.

Qual é a tarefa de um cristão quando o “império” está caindo aos pedaços? A mesma de sempre. Como disse o papa Bento XVI, "quando a escuridão parecia estar se espalhando pela Europa após a queda do Império Romano, São Bento trouxe a luz da aurora para brilhar sobre este continente".

Quando o Império Romano entrou na sua "idade das trevas", os católicos já conservavam a luz de Cristo em mosteiros, casas, escolas e igrejas e puderam começar a restabelecer a civilização.

Uma das tristes consequências da vida contemporânea é que a nossa cultura se tornou atomizada e anônima. Tornamo-nos um conjunto de indivíduos que circulam na órbita uns dos outros, limitando-nos a nós mesmos.

Veja, por exemplo, o processo cada vez mais automatizado de fazer compras. Dispomos de uma variedade enorme de bens que vieram até as nossas lojas sabe-se lá de onde, graças a sabe-se lá quem. Na hora de pagar, já existem (e vão existir cada vez mais) caixas inteligentes equipados com leitoras de chips que leem de uma só vez todos os códigos dos produtos do carrinho de compras, dispensando qualquer funcionário humano. Pagamos com nosso cartão ou com algum aplicativo do telefone celular, voltamos ao estacionamento igualmente automatizado e vamos embora sem precisar fazer contato visual com absolutamente ninguém. Ou ignoramos até mesmo este processo e fazemos tudo online, sem nem sequer precisar sair de casa. É uma evidente vantagem poder contar com essas alternativas, mas este fenômeno também deveria despertar em nós algumas reflexões sobre a perda crescente de contato humano com os chamados “estranhos”.

Na atual “economia made in China”, é muito comum estarmos a milhares de quilômetros de distância das pessoas que produziram a maior parte dos itens que nós compramos. Também estamos, facilmente, a centenas de quilômetros das pessoas que cultivaram os alimentos que levamos para a nossa mesa. De novo: isto nos traz comodidades e tem as suas vantagens práticas, mas vai limitando cada vez mais a nossa experiência de entrar em contato cotidiano com pessoas que não fazem parte do nosso círculo de convivência mais íntima.
E sabemos, no entanto, que as relações verdadeiramente humanas precisam de interação real.

Algo particularmente irônico é o seguinte: vivemos numa era em que os católicos muitas vezes interpretam que a "Nova Evangelização" consiste em "estar online". As ferramentas virtuais fazem parte da missão, é claro, mas precisamos repensar profundamente esta abordagem. Nesta época, talvez excessivamente digitalizada, a Nova Evangelização também significa sair deste esquema e conhecer as pessoas de verdade, na vida real, cara a cara.

"Amar a Deus acima de tudo" significa muito mais do que "postar uma imagem da Divina Misericórdia" em uma rede social. "Amar o próximo como a si mesmo" significa muito mais do que "‘curtir’ todas as atualizações de status do seu ‘amigo’ questionador das políticas laicistas".

Os beneditinos estabeleceram comunidades em seus mosteiros medievais e ensinaram o mundo a imitar as suas virtudes servindo-se do comércio e da educação. Enquanto a nossa época se afunda numa escuridão iluminada por telas de smartphones, talvez quem olhe nos olhos do outro se destaque como vencedor na luta por mostrar às pessoas um sentido mais profundo de viver.

Precisamos mostrar às pessoas, quando captamos a sua atenção, que existe esperança no mundo. As pessoas ficam fascinadas com a liberdade e com o amor; com pessoas que realmente conseguem viver para os outros e se sacrificar pelos outros; com pessoas que são radicalmente livres! E a Igreja é a casa certa para isso.

Neste mês de outubro, morreu o brilhante teólogo Lorenzo Albacete. Os jornais “The New York Times” e “The Washington Post” elogiaram a sua vida. Eles viram nesse teólogo a beleza da fé realmente vivida.

Albacete declarou em 2005: "A fé e a experiência de vida devem corresponder uma à outra. Foi isto o que São Bento fez. Precisamos de minorias criativas para estabelecer formas de vida atraentes para as pessoas que sofrem a crueldade do mundo de hoje".

O “Washington Post” também lembrou que Albacete tinha dito: "Se amanhã fosse revelado que o papa tinha um harém, que todos os cardeais tinham conseguido muito dinheiro em operações escandalosas com empresas corruptas e que os bispos estavam todos envolvidos com a pornografia na internet, a situação da Igreja seria bem parecida com a situação que a própria Igreja vivia no final do século XII, na época em que São Francisco de Assis beijou o rosto de um leproso pela primeira vez".

E aquele beijo começou a mudar tudo.

O cristianismo pode e deve se levantar novamente por cima das ruínas do império. E vai. Basta que levantemos o olhar para cima das telas dos nossos brinquedos eletrônicos. Basta que nos atrevamos a beijar de novo o rosto dos leprosos do nosso tempo.

FONTE: http://www.aleteia.org/pt



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